1. Introdução
Os reflexos da globalização, em que tudo se submete às leis do mercado, do consumismo, à busca desenfreada ao “ter”, à competitividade e ao individualismo, parecem ter atingido e apressado o ritmo de vida das pessoas, acarretando na perda do sentido do “humano” que existe em cada um. Parece que os indivíduos perderam a sensibilidade de serem “pessoas”, de serem “gente”; perderam a humana capacidade contemplativa, não apenas de “ser”, mas também de perceber o outro como gente.
O que a educação fez e faz para a promoção da pessoa humana? Qual o verdadeiro papel da educação? Qual o espaço dos processos de humanização nas práticas escolares?
A educação no Brasil só começa mais tarde com os jesuítas e é nesse período que começa a surgir, também, o dualismo educacional: os colégios para os filhos da elite e a catequese para as pessoas menos favorecidas (pobres - filhos de colonos e índios).
Mesmo depois de o Marquês de Pombal ter instituído a Escola Pública, em 1750 e expulsado os padres jesuítas, os preceptores continuaram assumindo uma educação imposta e transplantada, seguindo com o mesmo modelo dos padres jesuítas.
A educação só começa de fato a ser motivo de investimento e interesse no governo de Getúlio Vargas, em 1930. Nesse governo é que ocorre uma importante mudança, havendo a transposição de um modelo agrário-exportador para um modelo agrário-industrial, dando origem a um novo modelo econômico. Com essa nova mudança há também uma mudança na educação, tendo essa que contribuir com o novo processo de industrialização, preparar mão de obra rápida, barata e com um mínimo de qualificação, a fim de suprir as necessidades de mercado.
Desde os seus primórdios a educação brasileira, está atrelada basicamente à influência européia, um modelo imposto, transplantado, de educação, em que se tem uma administração centralizada, na qual não se vive uma efetiva democracia.
Só não copiamos do regime europeu a carga horária. Enquanto oferecemos 800:00 horas de Carga Horária anual os países do primeiro mundo oferecem 1400, 1600 horas anuais. Eles não entendem como podemos trabalhar na educação, com o mínimo de seis horas diárias. Entretanto, para optarmos por Escola de Tempo Integral, é preciso discutir profundamente a função pedagógica, porque a Escola de Tempo Integral não é apenas a ocupação do tempo da criança.
Enquanto a educação estiver somente preocupada em cumprir programas, vencer conteúdos, atingir metas, o povo terá realmente capacidade para governar? Se as práticas educativas continuarem reproduzindo o sistema neoliberal, cumprindo as exigências do mercado, elas estarão preparando lideranças populares para se organizarem de maneira realmente democrática e humanizadora?
O verdadeiro processo de democracia deve partir do conhecimento local que também é total (SANTOS, 2002a), deve resgatar a cultura local, a coletividade. A democracia se faz construindo, “fazendo junto”. No entanto, vivemos em um país extremamente burocratizado. Burocracias essas que, na maioria das vezes, impedem que ocorram mudanças; impedem que os processos democráticos de fato se efetivem. Essa burocracia reflete-se, também, em nossas escolas, em nossos currículos, nos quais há uma fragmentação do conhecimento, organizado em disciplinas, que valoriza apenas o conhecimento científico e não o saber das vivências, da experiência de vida de cada um.
Os conteúdos apresentam-se em grades fechadas, ocupando lamentavelmente a maior parte do tempo e do espaço escolar, tornando-se monótonos, tanto para os docentes quanto para os alunos.
Os professores estão mais preocupados em “vencer conteúdos” do que trabalhar “conteúdos” que estejam imbuídos de significados e ligados à formação e ao relacionamento humano que podem fazer a diferença no processo educativo.
As práticas escolares enfatizam e consolidam o individualismo e conformismo social, da maneira como trabalha os conteúdos, quase sempre desconectados de qualquer realidade social. Para Freire, é na realidade mediatizadora, na consciência que dela tenhamos educadores e povo, que iremos buscar o conteúdo programático da educação (p. 87).
Esse conteúdo deveria ter como ponto de partida as vivências, as histórias de vida dos sujeitos que também fazem parte do mundo, para que assim, possam atuar “nele” e “sobre” ele, os “conteúdos” da escola deveriam ajudar a viverem e serem melhores, a serem mais gente. A educação não pode restringir-se Apenas informações. É necessário repensá-la e fazê-la servir à vida, à realização humana, social e ambiental.
A educação deve ser compreendida como um processo, em que experiências são trocadas, vivenciadas, enriquecidas, numa convivência amorosa na relação professor-aluno, tendo claro o importante papel da escola e, principalmente, o educador que o tem a desempenhar diante de seus educandos. Ou, “a educação é um processo que se dá através do relacionamento e do afeto para que possa frutificar” (CHALITA, 2001, p. 154).
Eis aí a verdadeira gestão escolar, em que educador-educando-escola em sua totalidade são gestores de vida, de dignidade, de respeito e amor ao próximo, na qual laços são estabelecidos através de uma convivência pacífica, consensual, democrática e amorosa.
Nesse sentido, Oliveira in Freire (1996) nos provoca e convoca a todos os professores:
É na convivência amorosa com seus alunos e na postura curiosa e aberta que assume e, ao mesmo tempo, provoca-os assumirem enquanto sujeitos sóciohistórico culturais do ato de conhecer, é que ele pode falar do respeito à dignidade e autonomia do educando. (...) A competência técnico científica e o rigor de que o professor não deve abrir mão no desenvolvimento do seu trabalho, não são incompatíveis com a amorosidade necessária às relações educativas.
O processo educativo deve sim ser conduzido com rigorosidade metódica, com competência técnico-científica, sem que, com isso, sejam banidos do processo educativo os laços afetivos, interpessoais, tão ausentes na nossa sociedade atual; eles precisam ser resgatados.
Os seres humanos precisam ser compreendidos na sua totalidade, precisam aprender a viver e conviver como humanos: “aprendemos a viver como humanos vivendo em tal espaço a multidimensionalidade do viver humano” (MATURANA, 2004, p. 23).
E essa multidimensionalidade do ser humano pode ser estabelecida e vivenciada nas
relações educativas, através da vivência do ser humano, de gente convivendo com gente, com projeto claro, objetivos definidos.
A escola deve ser assumida como lugar e tempo de convivência de pessoas que aprendem juntas, umas com as outras a “serem gente”, “a cultura geral de um povo depende da cultura que a escola torna possível enquanto se está nela” (SACRISTÁN, 2000, p. 30). Por isso, acreditamos que a construção de uma cultura para uma sociedade mais justa, pautada em valores éticos, morais, democráticos e humanos, deve ser a centralidade do fazer pedagógico, o seu objetivo primordial.
Nesse sentido, urge a necessidade de se instituir “uma nova gramática societária e uma nova forma de relação entre estado e sociedade” (SANTOS, 2002, p. 19), com novas regras, com uma nova estrutura que permitam a elaboração de concepções alternativas, com princípios distributivos que permitam equalizar os meios públicos, havendo uma ruptura com o que está institucionalizado.
Foram questionadas “verdades” tidas como absolutas, institucionalizadas, nas quais os conhecimentos científicos devem ser considerados não mais como “única” verdade, mas valorizando também os conhecimentos da experiência de vida, da intersubjetividade dos sujeitos, e a escola, nesse viés, precisa estar aberta para trabalhar com esses “novos conhecimentos”, com esses “novos saberes”.
Vivemos sob o paradigma dominante, o que pode ser evidenciado nas “especialidades”, na formação especialista, na predominância ainda das ciências naturais sobre as sociais, no conhecimento visto como algo utilitário e funcional, na fragmentação entre natureza e ser humano, nas disciplinas fechadas em grades, enfim, nos currículos escolares.
Os educadores, gestores e todos os partícipes da instituição escolar precisam organizar-se e construir o seu próprio projeto de escola, definindo que “tipo” de educação a escola está promovendo e com que tipo de “seres humanos” está contribuindo no seu processo de construção, “a escola que o povo recebe é muito mais a escola que os professores organizam com sua maneira de ser, de falar e de trabalhar, do que a escola criada pelos organismos ministeriais e pelos textos escolares” (NIDELCOFF, 2004, p. 19)
Pensar em políticas, em projetos, em alternativas, é pensar em um paradigma emergente. Pensar em paradigma emergente é repensar a escola, e a reprodução das imutáveis práticas obsoletas dos professores.
Hoje não aceitamos mais esse modelo educacional, mas exigimos uma educação mais horizontal, participativa, democrática, que ensine princípios e estratégias para se “enfrentar os imprevistos, o inesperado, a incerteza” (MORIN, 2001, p. 16) de maneira participativa, coletiva, crítica e autônoma; uma educação como processo de conscientização.
O grande papel do Educador consiste em resgatar a esperança na educação, no ensino, nos educandos e em si mesmo, a começar pela humanização das práticas pedagógicas e de uma efetiva gestão democrática e participativa nas escolas, em que todos se reconheçam como gestores e partícipes desse processo que é uma construção coletiva.
Assim, sente-se a necessidade de investigar o engajamento de toda a instituição escolar para efetivação de uma prática educativa humanizadora, reconhecendo todos os envolvidos como gestores e partícipes desse processo de construção que é a humanização das práticas educativas. A escola é lugar de gente e tudo o que nela acontece deve estar a serviço do “ser mais”, da humanização de todos que participam dos processos educativos que intencionalmente, com objetivos claros, são desenvolvidos.
2. ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL
2.1 Objetivos
1. Criar uma escola que promova a identidade do município com formação para o desenvolvimento sustentável.
2. Priorizar a construção do sentimento nativista à comunidade local e regional.
3. Ampliar o tempo de permanência do aluno na escola, criando oportunidades de aprendizagens para todos, com novas metodologias.
4. Proporcionar atividades educativas diversas, articuladas à otimização do espaço escolar e dos demais espaços públicos.
5. Oportunizar o desenvolvimento físico e intelectual dos alunos com a prática de atividades pedagógicas diversificadas.
6. Garantir um ensino de qualidade que aumente as oportunidades dos alunos de crescerem como cidadãos.
7. Possibilitar a inserção, na comunidade, de estudantes mais preparados, novos artistas, atletas e melhores cidadãos.
8. Promover um ensino prazeroso, a alegria do aprender e o aconchego do educar.
2.2 Objetivos do Currículo
1. Construir a identidade social do município (conhecimento físico, social, cultural e histórico)
2. Promover e formar lideranças para o desenvolvimento sustentável.
3. Desenvolver e apropriar das diferentes linguagens.
4. Desenvolver a aprendizagem através da área cognitiva, nas suas mais diversas dimensões.
5. Respeitar as diferenças/diversidades.
Referências Bibliográficas
TONIOLO, Joze Medianeira dos S. de A e HENZ, Celso Ilgo. HUMANIZAÇÃO DAS PRÁTICAS EDUCATIVAS: um compromisso de todos os gestores.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
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